Doença Mental, Gravidez e Amamentação

Imagem retirada da net
 
Hoje, falo de um assunto tabu, mas sem tabus! Sou mãe biológica, enfrentei uma gravidez e um pós-parto, como todas as outras. O que me diferencia das demais é o facto de ser portadora de doença mental.
Para engravidar necessitei de preparar o meu corpo ao longo de um ano. Foi um longo ano a largar a medicação, aos poucos, até nada dela restar no sangue. Esse processo começou em Janeiro de um ano, e só pude engravidar no Janeiro seguinte. Esta espera, por si só, foi muito angustiante. Se normalmente uma mulher tem receio de não engravidar logo, imaginem o que é saber que pelo menos um ano, tem de esperar!
Passados estes meses, engravidei logo em Janeiro (o que prova que nem tudo foi assim tão mau!) De Janeiro a Setembro, em estado de graça para muitos e em estado de desgraça para mim, lá fui percorrendo estes meses doridos que duraram uma eternidade! Sim, assim foi!
 
Odiei a minha gravidez, amo mais do que a tudo o meu Filho! Mas sim... a gravidez foi uma das piores experiências da minha vida, assumo-o sem vergonha e sem tabus!! Sofri horrores! Além de dores dilacerantes na barriga, fiquei privada da medicação que me mantém operacional até ao 5.º mês. Tive placenta prévia, hipotiroidismo, diabetes e pré-eclampsia! Foi bom estar grávida?? Não, foi angustiante, foi doloroso e foi stressante.
Uma mulher grávida, por si só, altera-se ao sabor das hormonas; uma mulher grávida de risco portadora de perturbação bipolar com ciclotimia, ainda se altera mais. A sociedade tem de entender isto sem julgamentos fúteis ou alheados de conhecimento.
 
O dia em que o meu Filho nasceu foi o mais feliz da minha vida. A partir de então, amo-o mais a cada dia que passa. Mas esse dia também foi sentido com alívio, a gravidez havia, finalmente, terminado!
 
Por ora, falei apenas nos aspetos físicos da questão, queria agora focar-me noutro mais importante - o estigma. Fui alvo das mais variadas formas de discriminação por parte de profissionais de saúde e não só. Como pode uma maluca tontinha querer ter um filho!! Isso é loucura! Acharam certas mentes perversas!! Eu atrevo-me a dizer que a loucura só tem um nome - amor! Todo o que ama é louco, todos somos loucos quando amamos. E sim, sou louca, louca de amor pelo meu Filho! De tonta ou maluquinha, pouco ou nada tenho. Chego onde todos os outros chegam, alcanço aquilo a que me proponho e sou forte para enfrentar as agruras que se possam cruzar no meu caminho, quiçá mais forte que muitos sanos que por aí andam...
 
Não me posso quedar por aqui, sem mencionar a questão da amamentação. Se em grávida fui alvo de muitas críticas, no pós-parto essas críticas redobraram e.,por vezes, tiraram-me as forças. Que crueldade, retirarem as forças a uma mãe que só quer uma coisa: ser a melhor mãe possível para a sua cria que ainda agora veio ao mundo!! Não pude amamentar sob pena de ficar totalmente desequilibrada com aguda depressão pós-parto, que poderia ter consequências terríveis "sabe Deus" a que nível, quer para mim, quer para o Martim. O meu médico assistente foi inflexível (e eu também) nesta questão: a Elsa NÃO pode amamentar para poder fazer o seu tratamento sem consequências para o bebé!!
 
Enfermeiras e outros tantos elementos de hospitais, centros de saúde e afins, ficavam horrorizados quando me ouviam dizer declaradamente - Eu NÃO quero amamentar porque quero ter sanidade mental para dar assistência ao meu Filho. Sim, doença mental é isso mesmo, é não ter controle a nível neurológico-comportamental sem o auxílio de medicação específica. E não falo de ansiolíticos e antidepressivos corriqueiros de que se usa e abusa! Falo de medicação muito específica, complexa e basta em efeitos secundários, que são preferíveis ao desequilíbrio comportamental.
 
Assumo, não amamentei um pouco por opção, por necessidade e por amor ao meu Filho! A doença mental, a gravidez e a amamentação tem destas coisas... Hoje em dia, não podia estar mais em paz comigo mesma por ter tomado esta decisão - Não amamentei, mas procurei ser a melhor mãe que me era possível. Foi para teu bem, meu Filho, que nunca te cheguei ao meu peito. Amo-te perdidamente, daria a minha vida por ti, por isso fiz o que achava que devia ter sido feito. Eu sou tua mãe, eu, melhor do que ninguém, te protegerei incondicionalmente. Nem que para isso, lute contra tudo e contra todos!
 
Estigma e preconceito impestam o nosso mundo, enquanto o amor o abrilhanta! E por aqui me fico...
 


2 comentários:

  1. Respostas
    1. Olá Silvia, antes de mais obrigada por visitar o meu cantinho. Acho que todas nós, mulheres, carregamos a coragem connosco! Muitas vezes pensamos que não a temos, mas quando o mal bate à porta, ela sai-nos das entranhas e dá-nos força para enfrentar o mundo! Pelo menos tem sido essa a minha experiência. Um grande beijinho e terei todo o prazer em ir recebendo notícias suas.

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