A Bipolaridade

Não querendo entrar em questões de natureza científica, nas quais, aliás, sou pouco versada, apraz-me falar um pouco acerca das características desta doença e as repercussões que tem na vida do doente.
Não sendo uma doença radicalmente degenerativa, pode provocar a longo prazo deteriorização ao nível das células cerebrais. Na verdade as crises são tão violentas que deixam mazelas físicas no nosso organismo. Falando também no plano corporal, estas mesmas crises são responsáveis por sintomas bastante desagradáveis como distúrbios digestivos, vómitos, dores generalizadas, sonolência, entre outros que podem variar de pessoa para pessoa.

Existem dois tipos desta perturbação: a Tipo I e a Tipo II. A tipo I caracteriza-se por grandes oscilações de humor com prevalência de estados eufóricos. Nestas fases, o doente usualmente encasqueta ideias pouco sensatas e pode mesmo prejudicar-se a si e às suas famílias. Recordo o exemplo que vi num jornal em que um empresário, numa fase hipomaníaca ofereceu um carro topo de gama a todos os funcionários, delapidando bastante as finanças do seu negócio. A família teve de recorrer a tramites jurídicos, acabando por se ter provado que o indivíduo agiu debaixo de uma crise da doença. Por outro lado, a Tipo II caracteriza-se também por grandes oscilações de humor, sendo que as fases depressivas atingem graus violentíssimos. Escusado será dizer que o maior perigo destas fases é o doente acabar por se suicidar.

Apesar dos estados de euforia, mania ou hipomania serem bastante agradáveis de ser vividos, porque nos encontramos extraordinariamente contentes e felizes, não deixam de ser altamente patológicos. Uma fase destas é, como que invariavelmente, seguida de uma enorme depressão. No entanto, pode também caracterizar-se por uma enorme irritabilidade, o que já não é tão aprazível.

Os estados depressivos, ao invés, são muito desagradáveis, sendo que o doente tem muita dificuldade em viver a sua vida (se até o ato de estar de pé é custoso!).
U
ma outra característica é a possibilidade de ocorrência de alucinação que podem ser auditivas ou visuais. Estes surtos psicóticos aparecem nos doentes nas mais diversas fases.

Naturalmente que cada Bipolar é um doente específico. A medicação que é válida para um pode não o ser para outro. Penso que a doença nem é vivida da mesma maneira por todos os doentes. É necessária uma grande dose de racionalidade e abertura mental para nos rendermos ao problema. Assim é, devido à negativa carga social de que se reveste a doença mental.

Tudo aquilo a que me referi não é fruto de pesquisa da minha parte. Na verdade, tenho pouco interesse em conhecer os meandros biológicos da patologia. Referi-me à minha experiência pessoal de uma vida inteira a lidar com este problema. Com o tempo aprendi a conhecer-me. Hoje, quase que sei exatamente quando estou prestes a entrar numa crise depressiva ou antagónica. Felizmente que tenho um bom médico, que me assiste ao longo de praticamente todo o ano. Bem sei que nem todas as pessoas tiveram a mesma sorte. Sinto também que estou a ser bem acompanhada em termos de medicação. Claro que o facto de eu nunca, sob pretexto algum, ter posto os comprimidos de lado, foi fundamental ao longo de todo este percurso. Há muitas pessoas que à mínima oportunidade abandonam o tratamento que, aliás, goza de péssima reputação social (embora eu ainda não tenha conseguido perceber porquê).

Por último, resta-me acrescentar que os bipolares, o mesmo é dizer portadores de perturbação mental, não são parcos nem em inteligência, nem em racionalidade. Não! Nestes aspetos, como em tantos outros, são iguais aos outros milhões de pessoas que por aí andam. Chegam onde os outros chegam. Aquilo que me distingue da maioria dos meus amigos e familiares, é que eu tenho de tomar medicamentos para estar estabilizada.

À laia de conclusão, a bipolaridade é uma doença grave, que, embora não tenha cura, tem tratamento. É possível ter uma vida normal, embora com algumas precauções, tal como acontece com portadores de tantas outras doenças. 

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